QUANDO PRECISAMOS MUDAR
Hoje, este espaço será usado para reflexão sobre as tantas mudanças profissionais que me conduziram até aqui, e quem sabe, provocar algo dentro de você para a construção que busca.
Quando olho para trás, percebo um passo importante. A partir de março de 2013, as vidas profissional e pessoal nunca mais andaram separadas.
A Vanessa que havia chegado ali era ausente no dia a dia, imersa na rotina cheia de padrões e modelos sociais vazios, medrosa e totalmente enquadrada à um meio que tinha como única felicidade o happy hour da sexta-feira. E foram muitas sextas, quintas e até segundas quando a semana já começava mal — e geralmente começava.
Sem culpa ou vergonha daquele passado — em que os únicos estímulos permitidos eram carregados de futilidade e aparência — percebo que aquilo não era vida.
Não sei se você sente o mesmo, mas conheço muitas pessoas que sofrem com a chegada da segunda e planejam férias como a única forma para viver com plenitude, pois estão anestesiadas na maior parte do tempo. Nada disso é consciente, pois somos criados para achar isso normal e até mesmo desejado. Ansiamos por determinado cargo e status profissional.
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Em meados de 2016/2017 — em um projeto social criado com uma amiga — pude olhar para aquele mundo em uma posição diferente. Neste projeto íamos para a Av. Paulista munidas de cartaz e camiseta e nos colocávamos a disposição para conversar com as pessoas que queriam falar sobre qualquer coisa, e percebi as pessoas da geração crachá no pescoço carentes de espaços potenciais para olhar para si mesmas, pois submersas em seus empregos robóticos cheios de metas a serem cumpridas, passavam fingindo que nada daquilo servia.
Dos que olhavam e aproveitavam daquele momento estavam os já fora deste sistema, mais conscientes dos papeis em suas próprias vidas. Mas muitos estranhavam e até tiravam um sarro daquela ação, como se fosse algo ridículo.
Era interessante perceber as diversas reações, e sem julgamento, compreender que o conceito sobre realidade é totalmente contextualizado a partir do que cada um quer de fato acreditar. Ou pelo menos, com o que é mais fácil suportar.
Criamos verdades para suprir faltas que não queremos sentir. Olhamos para o diferente com ar de superioridade, justamente para não sofrer com a ameaça ao mundo fantasioso repleto de segurança que constituímos. Tudo isso tem uma fragilidade tão grande, e carregamos dentro de nós essa mesma fragilidade, sem nem perceber.
Quanto mais forte ou seguro quero me sentir, mais afastado de meu eu estou. É uma vida muito dura no final das contas, em que não podemos sentir ou reagir naturalmente sem julgamento. Não faço ideia de onde você se encontra neste momento, mas hoje sinto que estive neste lugar por mais tempo do que deveria, sem coragem ou disponibilidade para uma nova construção.
Por isso o autoconhecimento é tão importante. Pode parecer algo totalmente desconexo desta realidade, mas é somente por meio deste processo que somos capazes de compreender de fato o que faz sentido e o que não faz. Separar o joio do trigo e então, por meio da construção de recursos e ferramentas internas, ter coragem para romper com esse processo alienante
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Lembro do dia que resolvi fazer um curso livre de teatro e escutei uma amiga questionando o motivo daquela decisão, sendo que não tinha intensão de ser atriz ou trabalhar na área. Estranhei aquela pergunta da mesma forma como ela estranhou a minha escolha, mas minha razão era muito clara: se não pudesse ter um dia na semana para fazer qualquer coisa para mim sem precisar produzir nada para mais ninguém, a vida não era minha mais.
Naquele momento, só queria experimentar algo sem cobranças — inclusive sem as minhas próprias. Tanto que nem cheguei a concluir o curso, pois não havia obrigação alguma. No momento em que perdeu sentido, não fazia mais parte dos meus interesses e tudo bem.
Mas o mundo olha esse movimento com péssimos olhos, pois o conceito massacrante de produtividade e o que chamam de fracasso quando não se vai até o fim em determinadas escolhas é muito disseminado. Naqueles meses em que experimentei tantas aulas diferentes e contato com pessoas novas, produzi sensações e percepções que me acompanham até hoje. Fizeram mais diferença do que tantos outros cursos cheios de teoria e conceitos, que ficaram na gaveta.
Mas tudo isso só é possível se houver um nível de liberdade — que nem é a total — para ser e agir conforme cada situação e desejo.
Tudo isso me faz pensar também em tantas relações rasas que são estabelecidas nestes espaços mantidos pelo status quo. As afinidades e admiração surgem quando trocamos insatisfações e confidencias a respeito da vida do outro que julgamos com base na conversa de corredor. Isso não significa que amizades reais não surgirão nestes espaços, tenho amigos que fazem parte de minha vida com grande importância, mas muitos outros ficaram absorvidos e imersos em um ego fragilizado, incapazes de perceber o quanto são tóxicas para si mesmos.
Quando mudamos, não queremos mais olhar para trás, e isso significa deixar algumas pessoas neste antigo mundo e seguir. Faz parte.
Deixar algumas pessoas nem é o mais difícil desta história , pois neste processo todo, teremos que deixar para trás também nossos próprios ideais. Já compartilhei em outro texto, o quanto minha criação foi rígida a respeito da responsabilidade e importância do trabalho. Tinha que trabalhar a todo custo sem reclamações — mesmo doente, indisposta ou simplesmente sem vontade. E tudo isso construiu um ideal muito duro, mas ainda assim, a base que serviu para me conduzir por lugares importantes. Sou a pessoa que sou pelos ideais e momentos que vivi e tudo isso foi essencial inclusive no momento de escolhas por novas direções.
Sem desconstrução, nenhuma mudança é possível.
Não sabemos disso no início, mas acontece que, a partir do momento que somos capazes de olhar o mundo de forma consciente e seguir um novo caminho, este será só o começo: muitas outras desconstruções surgirão a partir daquele passo inicial — constantemente e cada vez mais.
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Para concluir esse texto que era para ser bem menor do que foi (por total empolgação), ao olhar para tudo o que aconteceu nestes 06 anos, nem consigo contabilizar todas as coisas deixadas para trás, pois isso é o que menos importa no final das contas. Este grande movimento se torna constante, natural e a dor surge justamente quando tentamos manter algo que já morreu.
Tive um outro momento de muita dor neste período e foi justamente quando tentei, por puro apego, manter uma ideia que já não existia mais. A People — primeira empresa, anterior à Shangi — nasceu na grande expectativa de ser a responsável por me conduzir nesta grande mudança. E de fato foi algo muito forte e libertador, mas nada é permanente, e depois de um tempo, aquela ideia também estava totalmente esvaziada e deixou de fazer sentido. Porém, estava apegada aquele novo ideal e imaginei que me perderia sem ele.
De fato me perdi, mas diferente do que pensava, foi quando tentei me manter presa e apoiada à algo que já não existia mais.
Precisamos nos perder para nos reencontrar. Morrer a todo instante para o passado e com liberdade, viver o presente.
E quando compreendemos que tudo na vida é um grande fluxo que deve ser conduzido por meio de nossos ideais, necessidades e vontades livres de todo e qualquer apego ou expectativa externa e interna, viveremos uma vida com propósito de fato.
Otema mudança profissional sempre foi importante — até por toda a história que acabei de te contar –por isso, sempre tivemos o cuidado em criar um produto que facilitasse e promovesse este tipo de reflexão. Ele já se chamou Oficina de Sonhos e teve formato presencial dividido em aulas semanais, já foi totalmente online, também criado em módulos e tenho orgulho em dizer que ajudou muitas pessoas à se encontrarem em suas paixões e transformações, livres de qualquer julgamento. E com todas as mudanças, a Oficina de Sonhos deixou de existir quando a People morreu, dando espaço para algo novo: A Jornada para Inquietos.
Por mais que esta não seja uma experiência focada em mudança de carreira — pois trabalhamos com o conceito ampliado de propósito— serve para tal, mas não só. Qualquer incômodo relacionado à vida pode ser compreendido com o conteúdo que a Jornada propõe, por isso, se este texto te mobilizou ou trouxe à luz aspectos que já existiam dentro de você, esta é uma experiência bem bacana para a continuidade das reflexões.
Geralmente fazemos uma experiência desta por ano — sem repeteco em 2019, se houver uma nova jornada, esta terá outro conteúdo no mesmo tema — e o próximo encontro será em Abril.
Neste link, você encontra todo conteúdo e formato da experiência.
Um super beijo,
Van