Quando alguma violência acontece em qualquer parte do mundo — como o massacre em Suzano desta semana — inevitavelmente todos nós sentimos. Não é segredo que a empatia faz parte de nossa existência e molda a forma como nos relacionamos, porém, o modo como lidamos com estes impactos e o que fazemos com isso assume inúmeras formas, pois tem a ver com a história de cada um de nós e com conceitos e crenças constituídas desde o início de nossa vida, mas principalmente a forma como lidamos diante de nossa própria dor.
Olhar para a dor do outro não é algo tão simples, pois antes de mais nada e para isso, precisamos olhar para a dor que nos habita. Algo que aflige o outro e que pode também existir em nós mesmos. Diante desta verdade tão dura, inconscientemente utilizamos diversas defesas como recurso para a sobrevivência.
Por isso, junto com toda a empatia, também surgem as diversas justificativas para afastar aquele acontecimento tão violento e que gera tanto sofrimento, de nossa realidade.
Desumanizamos o que é humano, pois assim, é mais fácil lidar. Aquilo está mais afastado de nós mesmos e impossível de repetição.
Mas essa negação e tentativa de isolamento afetivo que chega a se tornar uma alienação é algo que nasce quase junto com a humanidade, que em sua massa é incapaz de suportar a própria dor.
Buscamos culpados e acusamos o tempo todo. Culpamos os pais e a criação, o governo, o vídeo-game, as novas leis, a depressão e damos nomes para doenças que poderiam justificar um ato de violência. Mas com estas ações, estamos tentando nos defender e afastar da própria dor. Fechamos os olhos para não ver e ficamos ausentes de nós mesmos.
Isso não significa que a sociedade, assim como as psicopatias ou afinidades criadas em meio a violência não sejam pilares importantes para direcionar certos atos. Somos também uma produção do meio e da cultura, o objetivo deste texto não é fechar os olhos para os discursos de violência cada vez mais presentes.
Mas o que percebo quando vejo tantos especialistas no assunto relacionado à dor alheia e as agressões civis é apenas uma tentativa de fuga. E por mais que tentemos encontrar qualquer justificativa para acalentar nosso coração e nos afastar do sofrimento, nada apaga a dor. Esta continuará lá se as inúmeras situações como os desastres, massacres e qualquer tipo de violência não for olhada como ato de humanidade, que está doente de forma generalizada. Eles, mas também nós!
A empatia só é possível quando nos colocamos no mesmo lugar e nas mesmas dores do outro — e com o outro. E então, neste processo, pode haver a cura que a humanidade como um todo — não o governo, a justiça ou um determinado grupo de pessoas — tanto precisa.