O FANTÁSTICO FLUXO QUE É A VIDA

O FANTÁSTICO FLUXO QUE É A VIDA

 

Muitas vezes vejo a vida como um grande rio, com suas águas correndo para um determinado lugar — lugar esse que mesmo desejado, o controle passa longe. Na realidade, e por mais que as intensões de seguir um curso especifico sejam muito reais, algumas vezes nem chegamos perto disso, e então a frustração acontece, dando espaço para uma dor paralisante.

Deixar o fluxo natural da vida acontecer é algo que requer esforço. Sim, eu sei: como algo natural pode ser também difícil?

A necessidade de controlar as situações externas — e também internas — destrói a naturalidade. Basta você olhar um pouco mais afundo para sua vida e escolhas: perceba quais foram os momentos em que deixou as coisas simplesmente acontecerem, sem precisar controlar nada?

Pois bem… Temos estabelecidas tantas formas de olhar para as coisas, que tentamos encaixar a nós mesmos e o outro em um quarto sem janela — sem respiro algum. Mas a vida é cíclica e precisa de espaço para acontecer, e quando isso não é possível, tudo fica parado a ponto de mofar.

As inseguranças e medos a respeito do que será encontrado no final do rio, ou os monstros que esta água esconde nos transformam em seres controladores ao extremo. O ego, mais uma vez faz sua aparição com a tentativa de defender a nós mesmos de nossa própria vida. E assim, não permitimos que o rio flua naturalmente.

Não precisamos ter um script sobre a vida, com todas as falas e cenas já montadas. Não é tão bacana assim já saber o que acontecerá nos próximos meses e anos. Algumas surpresas no meio do caminho trazem emoção, pois ao permitir algo diferente, o imaginável é superado.

Ninguém aprende algo novo se tudo acontece como o esperado! Sair da zona de conforto é necessário, e isso significa se soltar da borda e descer rio abaixo, com todo o frio na barriga que é de direito. Afinal, é esse frio na barriga que permite a vivacidade da própria existência.

Descer o rio pode ser melhor do que o esperado.

 

Tive uma experiência há alguns anos com boia cros, uma das mais divertidas que poderia ter na vida. Na época, o controle era uma das grandes regentes das minhas escolhas — aceitei que lutar contra o ego é um ato que requer uma vida inteira de consciência –, ou seja, imagine como estar em uma boia descendo rio abaixo, batendo em todo tronco que encontrava tinha tudo para ser uma experiência horrível.

Confesso que no início até foi um pouco, pois não estava acostumada com aquilo, e o medo era muito presente, um tal de “será que vai dar certo”, “ah, mas que besteira, prefiro não entrar no rio” “e se eu não conseguir ficar em cima da boia” o tempo todo. Mas então resolvi pegar a primeira boia que estava na frente e me atirar no rio sem pensar muito. Para minha surpresa, depois do primeiro tombo que veio cheio de gargalhada, tudo ficou mais fácil e divertido. Não quebrei nada, não me afoguei e consegui subir na boia numa boa — a dificuldade era me manter em cima dela por muito tempo, mas isso já é outra história.

Como resultado, voltei com as pernas raladas, caí inúmeras vezes, e com uma sensação incrível de ter deixado o rio me conduzir. Não ter controle era algo bom, no final das contas!

Mas porque é tão difícil fazer isso quando estamos no dia a dia? Podemos até estarmos conectados com um lado mais fluído, mas quando menos esperamos, caímos na armadilha novamente!

E tenho uma hipótese para isso: são as expectativas de uma vida perfeita que ferram com tudo!!!

E elas estão aí o tempo todo, não é mesmo? Por meio dos muitos estímulos que dizem que você está “onde deseja estar”, e se não consegue a tal vida perfeita: a culpa é toda sua!

Ninguém quer se sentir culpado, vamos lá! Não erramos com a intensão de errar — se é que os erros realmente existem — pois no final das contas, todas as escolhas e situações servirão para alguma coisa.

Mas o discurso da meritocracia (que é uma besteira das grandes), os olhos julgadores da sociedade e a cultura de culpa nos moldaram. Precisamos controlar nossas vidas de tal forma que mantemos as rédeas curtas demais para curtir. Até respirar fica difícil, mas vamos seguindo… seguindo sem pensar muito… seguindo sem pausas… pois é o que esperam de nós, e o que, de certa forma, passamos a esperar também.

O controle ganhou espaço nos tais planejamento de vida, como se tivéssemos que saber o que irá acontecer nos próximos 5–10 anos. Os colegas coaches estão aí para confirmar isso.

Confesso que as perguntas sobre o que desejo nos próximos anos sempre me deixaram em pane!!! Tanto que durante muito tempo acabei criando trocentos projetos de gaveta só para ter algo que ocupasse esse lugar. Mas a verdade é que tudo isso sempre me trouxe muita angústia, pois traz à tona todo aquele controle que combato todos os dias há anos.

Quando me lembro que a única coisa que sempre importou foi ter liberdade, relaxo, pois isso significa estar desprendida dos tais planos e sentir o que tiver que sentir sem preocupações com o depois. Deixar as coisas acontecerem, sem culpa alguma por isso.

Veja bem: não descarto as teorias e técnicas de planejamento, muito pelo contrário, acredito nos benefícios que poderiam trazer se fossem melhores aplicadas, ao invés de discursadas em tudo a todo momento. Nem tudo precisa de foco e disciplina, existem coisas que funcionam no apenas ser, sem condição alguma.

Precisamos de mais leveza na vida e menos rigidez, e acredito que é por meio dessa fluidez — possível com acolhimento — que conseguimos alcançar os maiores desafios.

Acolhimento de sentimentos, limites e até das tais expectativas. Olhar para a realidade e perceber que existe um desejo ali pode nos ajudar a lidar com tudo isso, pois mesmo quando não é possível sua concretização, seguimos em paz e prontos para viver a vida como ela é e não como a criamos em fantasia.

Deixe seu rio fluir…

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