O que nos torna humanos? |#1. Sobre Conexões

Para continuar nossa série sobre as grandes características que nos torna humanos, quero começar com uma pergunta: Como andam suas relações?

Pois bem, somos seres sociais por natureza e isso significa que não vivemos sozinhos. Nascemos, crescemos e escolhemos a partir do instinto básico e primário de conexão.

Desde nosso nascimento, dependemos fisicamente e emocionalmente de cuidados externos. A função materna é então fundamental e serve de alicerce para que possamos crescer com segurança e confiança.

Segundo o psicanalista e teórico D. Winnicott, a função materna é importante no processo de integração e amadurecimento do bebê, que a partir desta primeira relação, percebe-se no tempo e espaço, reconhecendo-se em seu corpo e na realidade.

Este movimento permite o início da vida e do eu.

Gostaria de deixar claro que, a função materna não precisa ser cumprida por uma mãe necessariamente e sim por qualquer pessoa – de qualquer sexo, idade, famíliar ou não – que tiver a disposição emocional para tal.

É este papel que oferece o suporte e apoio necessários para o desenvolvimento saudável do bebê, que poderá então, se transformar em um adulto maduro.

Aqui, maturidade significa a integração da saúde emocional, física, mental e espiritual.

O que sustenta a vida como adultos saudáveis é a consciência do eu, que acontece inicialmente a partir do outro, na primeira relação que construirá nossas forças e recursos para seguir nesta grande jornada da vida.

Winnicott também define a função paterna, que é responsável pelo suporte e fortalecimento para que a existência da função materna seja possível.

Com o passar dos anos, durante o amadurecimento, podemos deixar de lado a dependência física e emocional que um dia nos trouxe a sobrevivência. A independência faz parte de nossas conquistas, mas isso não significa a ausência de relação. Esta possue uma grande influência e importância em nossa constituição como seres humanos até o fim.

Nos desenvolvemos e criamos durante toda a vida e é, a partir de tantas pessoas que cruzam nosso caminho, que somos capazes de nos transformar.

Como diria Vinícius de Moraes, a vida é repleta de encontros e desencontros e são a partir destes que também nos encontramos ou afastamos de nosso eu.

Por isso, resposta: Como estão as suas relações?

Como anda sua relação consigo mesmo?

Estas respostas podem te guiar para uma nova forma de conexão.

Todos os dias, passamos pela vida sem olhar para o lado, quem dirá olhar para dentro. Nos perdemos nas urgências da vida, no relógio e nas reuniões, na pressa que nos tira, deixamos de viver o que é realmente importante e o que nos trará à vida.

Porém, quando estamos dispostos a conexão genuína, ao olhar despido de conceitos e preconceitos, somos capazes de (re)construir a vida real, de dentro para fora.

Somos carentes de olhar, mendigos destas relações genuínas. É muito mais fácil culpar o outro por nossas reações, porém, somente você é responsável por suas inseguranças e descontentamentos.

As relações devem ser construídas por você.

Devemos, cada vez mais, nos questionar e pensar sobre a forma como nos comunicamos e sentimos o mundo. Nossas relações fazem parte de quem somos como indivíduos, ou seja, a forma como nos relacionamos diz muito mais sobre nós do que sobre o outro.

Você deve conhecer o Terapia na Rua, projeto social do qual sou co-criadora, e este é um dos maiores exemplos que posso te trazer de conexão. O que percebo é que, em todas as ações – que acontecem quinzenalmente – a equipe de voluntários vai para a rua, dispostos à escuta genuína e abertos para a conexão sem julgamento e é neste momento em que os encontros reais se dão.

E o que mais me chama a atenção não é o fato de que eu me transformo em cada encontro e sim, a sede e fome que as pessoas estão em doarem o seu melhor.

Cada um que passa pela ação, nos aborda com o propósito de estabelecer uma conexão, de olhar e ser olhado e mesmo que de uma forma tímida, oferecer o seu melhor. Ganhamos abraços, poemas, galhos de árvore, olhares e sorrisos, mas na verdade o que cada um que cruza nosso caminho está nos oferecendo naquele momento é uma parte de si mesmo. E é a melhor parte!

Eles estão abertos e dispostos pois antes de qualquer coisa, nós estamos abertos e dispostos. Ou seja, antes de exigir do outro em uma relação, ou lhe jogar críticas e julgamentos, precisamos olhar para nossas próprias inseguras e compreender que a primeira relação que existe é a interna, a mesma relação que foi criada a partir do olhar do outro que cumpriu a função materna em nosso passado.

Isso é saúde! Isso é amadurecimento! E é isso o que nos torna humanos…

conexão

 

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